14/11/2010
33º domingo do tempo comum-Ano C
“Quem não quer
trabalhar também não deve comer!”
A dona coelha e seus filhinhos estão em cena. Seu Orelhudo
está deitado, tocando violão.
D. Coelha: ai que cansaço, não é fácil preparar a comida de
onze filhos sozinha.
D. Coelha: ai que difícil, trabalhar tanto sem ter ajuda de
ninguém.
D. Coelha: ai que trabalheira, cozinhar, lavar, passar,
cuidar da casa sem ajuda de ninguém...
D. Coelha: orelhudo! Vai ficar aí á toa sem fazer nada? Não
vê que eu tou precisando de ajuda?
Orelhudo: quem? Eu?
D. Coelha: é, tá vendo outro orelhudo por aqui?
Orelhudo: tou, um monte de orelhudinhos... olhe só o tamanho
da orelha daquele ali...
D. Coelha: mas eu não tou falando deles não, por que ainda
são pequenos. Eu tou falando é de você!!
Orelhudo: de mim?
D. Coelha: é, de você!!!
Orelhudo: de mim?
D. Coelha: é! Além de preguiçoso tá surdo?
Orelhudo: preguiçoso? Eu? Você sabe muito bem que eu estou me
recuperando...
D. Coelha: recuperando de quê? Posso saber? Por acaso é daquele
espinho que você pisou? Há cinco meses?
Orelhudo: é...mas até hoje tá doendo, viu?
D. Coelha: não vi não...e a partir de hoje se não trabalhar
não vai comer...
Orelhudo: ah é?
D. Coelha: é!!
Orelhudo: é guerra então?
D. Coelha: não é guerra, é justiça...eu não vou mais fazer
comida sozinha pra você ficar aí deitado, tentando tocar este violão que você
nem sabe tocar de verdade. Eu não agüento mais!!!!
Orelhudo: agora eu magoei... vou te provar que eu não sou
preguiçoso, sou apenas uma pessoa doente, enferma, quase um deficiente.
D. Coelha: então prove: lave aquelas vasilhas que eu te dou
um prato de almoço...
Orelhudo: eu não preciso de você, sua mulher cruel! Vai, pode
comer tudo sozinha! Enche a barriga de cenoura, sua gulosa!!! É por isso que
você tá tão...
D. Coelha: tão o quê? Diga, vai!
Orelhudo: nada, nada não...
Comeu uma cenoura com casca e tudo tão grande ela era...ficou
barriguda...
D. Coelha: pelo menos eu como o fruto do meu trabalho. E o
trabalho dignifica o homem.
Orelhudo: eu não sou homem, sou coelho.
D. Coelha: Todos os dias eu saio com os nossos filhinhos pra
colher cenouras, chego em casa e preparo sozinha...enquanto que você...fica aí
esperando o prato na mão...
Orelhudo: eu vou embora, vou viver bem ali, sozinho, e vou
fazer tanta comida gostosa que os nossos zureinhas não vão sair de lá...
O Orelhudo vai pro outro lado do cenário. Chega e deita,
começa a tocar violão. Enquanto isso a D. Coelha prepara o almoço, dá pros
filhos, arruma todos pra irem pra escola, eles saem de cena e ela fica
arrumando as coisas, senta em frente à tevê e descansa. O Orelhudo resolve
parar de tocar e fica com fome. Olha de um lado para o outro sem ter o que
comer. Fica triste. A dona coelha observa e nem liga, continua comendo sua
cenoura em frente à tevê. O Orelhudo chega:
Orelhudo: por acaso sobrou alguma coisa aí?
D. Coelha: (comendo cenoura) não!
Orelhudo: nem um pedacinho de cenoura?
D. Coelha: não.
O Orelhudo volta. Chega o seu Cachorrão.
Cachorrão: boa tarde, seu Orelhudo. O senhor sabe de alguém
que esteja querendo trabalhar? Eu estou precisando de trabalhadores lá na
fábrica.
Orelhudo: trabalho? Eu, eu estou querendo trabalho.
Seu Cachorrão: o senhor? Mas eu sempre lhe ofereci serviço e
o senhor nunca aceitou!
Orelhudo: isso era antes...
Seu Cachorrão: antes de quê?
Orelhudo: antes de ser expulso de casa. Agora eu preciso
trabalhar, o senhor me arruma o emprego? É pra fazer o quê? Ganha quanto?
Trabalha quantas horas por dia?
Seu Cachorrão: no momento estou fabricando botas de molas
propulsoras, ideais para pessoas que não querem fazer esforço nem pra andar. O
senhor sabia que existem seres assim?
Orelhudo: não diga?! Nãok sabia não, afinal: O TRABALHO
DIGNIFICA O HOMEM. E o coelho também.
Seu cachorrão: então vamos logo, não podemos demorar mais.
Saem os dois. Os filhinhos voltam da escola. Logo em seguida
chega o Orelhludo cheio de compras.
Orelhudo: olá, meu amor...olhe só o que eu trouxe.
D. Coelha: onde você conseguiu isto, orelhudo?
Orelhudo: eu trabalhei. E no final o seu Cachorrão me pagou,
e sabe o que mais?
D. Coelha: o quê?
Orelhudo: é muito bom trabalhar, por que quem trabalha come
na dignidade o seu próprio pão.
Fim.
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